quinta-feira, 25 de novembro de 2010

When I wake to realize, all I'd done / I'll be breaking strings / And all you're gonna feel / Is undone

Há muito esperara por aquele momento. Aquela borra de sangue representava uma conquista há muito anseada, desejada intensamente pelo âmago de todo o seu ser. Por quanto tempo - perguntava-se - não desejou que um estranho lhe negasse piedade, ignorasse suas ordens e lhe fizesse o que agora se tornara? Foram tantos que passaram, e nunca conseguiram ler isso nela, isso que tão evidente se fazia, ao menos a seus olhos. Quanto tempo havia levado para que um a entendesse e a violasse, sem misericórdia?

Há anos desejava a brutalidade, como quem espera por uma dádiva. Mantinha sua pureza intocada como um troféu, e o que mais queria, e intensamente o desejava, era que esse trunfo fosse jogado ao chão - destruído. Anseava pelo subjugo, pelo desrespeito torpe. E conseguira; sim, conseguira. Tornara-se outra, contra a vontade declarada, mas internalizada, uma vontade de transgressão que lhe deveria ser imputada externamente, assim entendia. Mantinha o poder esperando que outro o tomasse, e assim entendia que deveria ocorrer para que entrasse em contato com o obscuro de suas estranhas -- no fundo, sempre fora uma tentativa de autoconhecimento, de absorver a brutalidade do mundo como quem embala um filho.

E o que toda a brutalidade lhe proporcionara, agora que a tinha alcançado? Idealizara aquele momento de subjugo por muitos anos, esperando que aquilo fosse lhe apresentar um par à sua altura, um igual, merecedor. Em sua mente, aquele momento seria de entrega e de reconhecimento. Entretanto, só o que vislumbrava eram os destroços. Que identidade lhe restara? Sentia-se invisível. Havia sido tomada, e estava invisível, irreconhecida. Não sabia em que se tornar naquele momento - o que construir, depois de desvelada? Pensara que sua vulnerabilidade a alçaria a outras dimensões, mas somente lhe tornara fraca, fraca, fraca. Não se reconhecia mais.

Resoluta, percebeu que só havia uma solução possível: reconstruir o que se perdera, e adeus.

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