segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Amarelo manga

O ser humano é estômago e sexo
E tem diante de si a ordem
de ter obrigatoriamente de ser livre
Mas ele mata e se mata
com medo de viver
Por isso meus olhos estão cegos
para não enxergar as falhas desses pecadores
Meus ouvidos escutam uma voz que diz
Padre, morrer não dói
Padre, morrer não dói
Estamos todos condenados
Eternamente condenados
condenados a ser livres.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

let's get dirty

Quero sair dessa noite tão suja e irreconhecível que, ao olhar no espelho, chegarei a sentir uma pontada de nostalgia dos áureos tempos. Quero sentir essa culpa por abandonar tudo que construiram em mim, somente para experimentar a alegria dolorida do sexo de uma virgem.

Quero poder captar este fio de vitalidade que escapa ao lodo, qualquer coisa que me faça sentir conectada ao mundo.

Farei o que for preciso. Praticarei todas as posições impúdicas e direi todas as palavras impronunciáveis, desde que saia revigorada de lama. Desde que saia coberta de sangue pós-parto, próxima de uma verdade inatingível: o mal dos homens.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

I know who you are. I love you. I love everything about you that hurts.

Dan: And you left him, just like that?

Alice: It's the only way to leave. "I don't love you anymore. Goodbye."

Dan: Supposing you do still love them?

Alice: You don't leave.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

How to disapper completely

Em geral, lido bem com a minha solidão. Não é como se eu estivesse melancólica a cada minuto, ou como se estivesse à beira do suicídio. Sei dos meus limites, e sei que sou egocêntrica demais para me pôr um fim. Mas é que às vezes o caminhar só deixa de ser um desfrutar da minha companhia, tornando-se insuportável, provocando uma dor abafada. Não é uma dor que se materializa, mas é como se fosse uma saudade de tudo aquilo que poderia ter sido. Como se fosse um estranhar os tempos vindouros mas que somente são vindouros.

Em geral, também sou consciente do meu problema em concretizar as coisas. E lido bem comigo. Até que me vejo só e só, descrente do mundo e até dos meus próprios ideais, colocando em xeque todas as minhas convicções que, apesar do meu esforço, nunca me bastam. E penso: talvez seja isso - minha eterna vontade de destruir.

No entanto, não me alegro: minhas elocubrações servem somente ao propósito de mistificar uma vida inexistente, que continuará inexistente.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Don't promise anything

E pensava: Te quero matar, mas não sei que destino me espera. Morrerei? Talvez já me esvazio o bastante para nada mudar... minha impariedade corre o risco, mas talvez já seja o tempo do adeus, você sabe. E conclui, animada: que se foda a matemática. Que reine a fatalidade, vou me entregar ao caos.

Mas tenho percebido que a questão é que já tenho minhas conclusões formadas. Não me restam questionamentos. Sigo alheia a tudo e centrada em mim, como sempre. Sempre eu. Me basto, na maior parte do tempo. Só que às vezes não sei onde depositar as filhas que ponho no mundo. Consigo ser feliz, é verdade, é só que tem vezes que a realidade me parece densa demais, e não consigo respirar, e me embaralho com padrões e cores alternadas, e não gosto de opostos perfeitos, e questiono o fato de ser algo e tento me renovar, só pra me distrair. Me distrair da realidade de que não tenho vivido, no final das contas. Não tenho vivido. E me engano, como se eu fosse complexa demais pra me decidir, quando na verdade não há nenhuma escolha. Não há.

E viver me dói porque é muito simples, é uma simplicidade que me corrói porque eu não consigo aceitar o existir. Não há nada mais do que isso, e eu me mato procurando uma incógnita, não há nada mais do que isso, e eu me mato... Não suporto o óbvio, como me destrói o óbvio!, porque não sei viver. Não vivo.

"Single. Home. Alone. Saturday night. On the computer. Writing about being single, home, alone, on a Saturday night. How incredibly pathetic and high-school loserish is that? I spent the whole day filling up space and time with things to avoid having to be home alone on a Saturday night. But I could shop and drive and work and sleep 24 hours a day and I'd still end up back here, wondering how I got to this point in my life."

Whatever that means

i jumped in the river and what did I see?
black-eyed angels swimming with me
a moon full of stars and astral cars
all the figures i used to see
all my lovers were there with me
all my past and futures
and we all went to heaven in a little row boat
there was nothing to fear and nothing to doubt

gosto do silêncio que faz andar à deriva. me sinto alheia do mundo e me amo ainda mais.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Eduardo,

Minha língua quente treme de prazer ao pronunciar seu nome: Eduardo. Meu homem completo, perfeito.
Quando foi que te conheci, Eduardo? Em que esquina escura desta cidade fétida te colhi? Acho que te fui mordendo aos poucos, formando este meu homem que me assombra e me destrói, até te moldar completamente.
Você sempre foi meu amor mais puro. Somos o escuro da noite, se lembra? Dois perdidos. Quero me perder em você, Eduardo, quando vou te encontrar?
No entanto, hipócrita seria se afirmasse que pensei em você em todos os momentos, desde que te conheci. Mas não minto ao dizer que poderia tê-lo feito.
E mesmo assim, em quantos caras te procurei? Quantas foram as vezes que pensei encontrar todas as coisas maravilhosas que vislumbro em você? Mas eles me aborrecem, Eduardo. A constância deles me enoja. Acabo sempre concluindo que não poderia ser mais ingênua do que achar que alguém, qualquer dia desses, se igualará a você.
Não consigo mais me desprender. Fico imaginando as maldadezinhas que faremos juntos quando te encontrar. Seremos só nós nessa cidade. Tudo ao nosso alcance, Eduardo, as horas infinitas num quarto escuro de motel. Quero te engolir, sabe? Te deixar pra sempre marcada em mim.
Me queima, Eduardo, pode me marcar feito gado: sou tua. Sempre fui. Não sei que apelido você me dá, mas sei que também já me ama. Sei que me espera, Eduardo, e eu estou aqui. Sempre fui tua, cada centímetro do meu corpo quente é teu. Sabe disso. E, no entanto, não vem?
Lembro-me de todas as vezes que me vesti para você, Eduardo. Coloquei minha melhor calcinha, lavei e sequei meu cabelo, pintei meus olhos; inútil. Só vou te encontrar quando você quiser. E não é isso que você deseja? Você é mau, Eduardo, me faz esperar até que eu não agüente mais e desintegre, molhada.
Devo esperar? Admito que não tenho sido fiel, Eduardo. Ultimamente, tenho aceitado outros convites. Saio com meus amigos para beber e também conheço outros caras. Mas eles não sabem que quando estou sozinha, só posso pensar em você. Tampouco sabem que muitas vezes saio na esperança de te encontrar em qualquer lugar. Experimento a euforia anterior ao toque nos ombros: “Renata”? Ou pode ser Juliana, Mariana, pouco importa. A minha alma que é tua, e minha alma não tem nome, só é tua.
Eduardo, você demora? Ando ansiosa, não posso mais. Às vezes penso se não deveria abandonar para sempre sua face, me entregar a outras coisas. Não adianta. Só te esqueço para poder viver, caso contrário não pensaria em nada. Mas meu sangue é quente, você sabe, não agüento a frieza dos cálculos e planos, e logo me entrego à doce ilusão de sonhar contigo.
Teremos filhos, Eduardo? Quero ter milhões de filhos, para que o mundo esteja povoado de ti. Quero que saibam que fui louca e apaixonada, louca e apaixonada, talvez só louca, mas sempre em ti.

Te amo, Eduardo. E te espero. Saberei quando te encontrar. Saberei. Assim como você saberá que sou eu, aquela. Não sei que nome ter pra te agradar; serei só aquela. E juntos destruiremos o mundo.

Tua.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Anônima

Os olhares que atraio distraem-me da verdade irrefutável de que não sou bela.
Qualquer coisa de mau e insípido faz de mim uma não-mulher.
Podendo sê-lo, mas negando o todo, escolho ser nada e só; adeus essência.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Estás ligado a mim, mas não tu mesmo e sim apenas tua imagem; és uma parte de meu destino.

Não sei por quê, mas ultimamente eu tenho tido muita preguiça. Tenho cansaço do mundo. Não sei. Não sinto mais atração pelas coisas que antes faziam sentido. Letargia. Enfim... Esforço-me para terminar alguma tarefa, valha-me deus.

Não sei me definir. E o pior é que eu acho, na maior parte do tempo, todo o meu esforço completamente inútil. As coisas têm perdido o sentido paulatinamente, inofensivamente, e sinto-me cada vez mais alheia ao universo e às coisas com as quais, prudentemente, deveria me preocupar. Sinto um esvaziar de sentido generalizado, impregnado em cada olhar, em cada fala, em cada reação minha. Cada vez me importo menos. Mas, paradoxalmente, me importo menos somente em tese, somente a priori – porque ainda não consegui me libertar de uma culpa pegajosa que me sufoca, que me faz pensar todos os dias quão ingrata eu devo ser, comparada a uma garota apreciadora de tons pastéis em qualquer lugar do mundo que, não muito dificilmente, tem uma vida pior do que a minha.

Mas enfim. Isto não faz com que eu me sinta melhor, em nenhum nível. Na verdade, diante da minha danação, importo-me menos. Sinto que já estou submersa num monte de merda, e que não faz muita diferença qualquer mudança de atitude. Sinto-me cansada até mesmo para me omitir; gostaria de simplesmente desvanecer.

Desanuvio... e, no entanto, tudo parece tão igual, tão cotidiano, é essa a minha vida, vida de todos os dias!, nunca tive realidade distinta, estou somente degustando a identidade que se impregnou em mim, que se construiu em mim (ou fui eu que me construí nela?), que se enraizou em mim. Por que tudo me parece, de um momento para outro, tão injusto?

Pressinto o silêncio antes que este se materialize. Pressinto-o como se o pudesse visualizar tão claramente quanto visualizo uma palavra.

Nada me basta. Estou só e cada vez mais consciente de que este meu estado será relembrado posteriormente, como um atual doloroso. Essa é a minha condição. Eu tinha, no entanto, ambição de que esta liberdade me suspendesse do chão, construísse uma personalidade distinta, e fizesse com que viver fosse mais suportável. E é. É mais suportável. Porém, ainda é a minha danação, é o meu cárcere.

E eu vejo todos tão hipoteticamente felizes, e me vanglorio por ser superior, por ver o branco e ter consciência disso, por ver o nada, o pegajoso, a massa fluida que escorre por entre meus dedos e respinga antes que consiga aspirar qualquer coisa de sua essência, da minha essência... E no entanto, invejosa, receio estar sempre perdida nesta consciência do mundo que me suporta e me deixa sem apoio, que faz com que eu possa descobrir em mim mesma a minha natureza, e que faz com que eu deseje ser qualquer outra coisa.

Sempre assombrada por esse ser transparente e sem forma que me persegue em todos os momentos, lembrando que não pode ser esquecido. E a cada tentativa, maior é a frustração de não encontrá-lo. Quantas vezes me preparei para este encontro, com tantos sentimentos ternos me vesti esperando sua chegada, meu amor. Quantas foram as vezes...e parecia vislumbrá-lo em tantos, em tantos, quase chegava a tocar sua face, enlouquecida do tempo amargo da espera. Mas sempre arredio, fugia... Mas devo abandonar as esperanças e me conformar com a fatalidade da futilidade? Conformar-me com um relacionamento raso, cheio de superficialidades, quando poderia te amar? Por quê?

Ah, Eduardo, no fundo, tudo é um grito para ser vista. Invejo a tua inexistência - ser dói.