Não sei por quê, mas ultimamente eu tenho tido muita preguiça. Tenho cansaço do mundo. Não sei. Não sinto mais atração pelas coisas que antes faziam sentido. Letargia. Enfim... Esforço-me para terminar alguma tarefa, valha-me deus.
Não sei me definir. E o pior é que eu acho, na maior parte do tempo, todo o meu esforço completamente inútil. As coisas têm perdido o sentido paulatinamente, inofensivamente, e sinto-me cada vez mais alheia ao universo e às coisas com as quais, prudentemente, deveria me preocupar. Sinto um esvaziar de sentido generalizado, impregnado em cada olhar, em cada fala, em cada reação minha. Cada vez me importo menos. Mas, paradoxalmente, me importo menos somente em tese, somente a priori – porque ainda não consegui me libertar de uma culpa pegajosa que me sufoca, que me faz pensar todos os dias quão ingrata eu devo ser, comparada a uma garota apreciadora de tons pastéis em qualquer lugar do mundo que, não muito dificilmente, tem uma vida pior do que a minha.
Mas enfim. Isto não faz com que eu me sinta melhor, em nenhum nível. Na verdade, diante da minha danação, importo-me menos. Sinto que já estou submersa num monte de merda, e que não faz muita diferença qualquer mudança de atitude. Sinto-me cansada até mesmo para me omitir; gostaria de simplesmente desvanecer.
Desanuvio... e, no entanto, tudo parece tão igual, tão cotidiano, é essa a minha vida, vida de todos os dias!, nunca tive realidade distinta, estou somente degustando a identidade que se impregnou em mim, que se construiu em mim (ou fui eu que me construí nela?), que se enraizou em mim. Por que tudo me parece, de um momento para outro, tão injusto?
Pressinto o silêncio antes que este se materialize. Pressinto-o como se o pudesse visualizar tão claramente quanto visualizo uma palavra.
Nada me basta. Estou só e cada vez mais consciente de que este meu estado será relembrado posteriormente, como um atual doloroso. Essa é a minha condição. Eu tinha, no entanto, ambição de que esta liberdade me suspendesse do chão, construísse uma personalidade distinta, e fizesse com que viver fosse mais suportável. E é. É mais suportável. Porém, ainda é a minha danação, é o meu cárcere.
E eu vejo todos tão hipoteticamente felizes, e me vanglorio por ser superior, por ver o branco e ter consciência disso, por ver o nada, o pegajoso, a massa fluida que escorre por entre meus dedos e respinga antes que consiga aspirar qualquer coisa de sua essência, da minha essência... E no entanto, invejosa, receio estar sempre perdida nesta consciência do mundo que me suporta e me deixa sem apoio, que faz com que eu possa descobrir em mim mesma a minha natureza, e que faz com que eu deseje ser qualquer outra coisa.
Sempre assombrada por esse ser transparente e sem forma que me persegue em todos os momentos, lembrando que não pode ser esquecido. E a cada tentativa, maior é a frustração de não encontrá-lo. Quantas vezes me preparei para este encontro, com tantos sentimentos ternos me vesti esperando sua chegada, meu amor. Quantas foram as vezes...e parecia vislumbrá-lo em tantos, em tantos, quase chegava a tocar sua face, enlouquecida do tempo amargo da espera. Mas sempre arredio, fugia... Mas devo abandonar as esperanças e me conformar com a fatalidade da futilidade? Conformar-me com um relacionamento raso, cheio de superficialidades, quando poderia te amar? Por quê?
Ah, Eduardo, no fundo, tudo é um grito para ser vista. Invejo a tua inexistência - ser dói.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
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